As fronteiras do cooperativismo financeiro

          Cristiano Celso
Diretor de Controles Internos e Riscos

         Jorge Lopes 
Diretor de Supervisão e Riscos

Conhecimento que ultrapassa as fronteiras de tempo, distância e permite a evolução contínua! Nesse propósito embarquei para Frankfurt, na Alemanha para participar de uma importante jornada de aprendizado que consistiu em uma imersão de 10 dias no universo do cooperativismo alemão junto a uma comitiva formada por 25 brasileiros.
Nesse intensivo, tive a oportunidade de acompanhar de perto e constatar que mesmo há quilômetros de distância que separam os nossos continentes, os processos implantados aqui na Cocre estão em consonância com o que é aplicado por lá.

Dentro da história do sistema cooperativista, o continente europeu foi o precursor, considerado o berço do movimento e mesmo após 170 anos da instituição da primeira cooperativa de crédito urbana, na cidade alemã de Delitzsch, pode-se afirmar que na esfera global esse sistema é tido como uma importante referência e um modelo a ser seguido.

Ao analisar o atual panorama, observa-se que as cooperativas de crédito alemãs detêm 25% de todo o mercado financeiro do país, enquanto 36% são compostos por setor público e os 10% pertencem as instituições financeiras privadas.
O mais interessante desse cenário é que as taxas de produtos e serviços aplicadas pelas cooperativas são relativamente mais altas em comparação às outras instituições, no entanto, os associados optam por permanecer e consumir as oportunidades disponibilizadas pelas cooperativas, tendo em vista que essa é uma forma de contribuir ativamente com a sustentabilidade da associação.

Cabe ressaltar que os principais triunfos das cooperativas de créditos alemãs, estão atrelados aos propósitos e ao valor agregado a sociedade. Os cooperados só investem onde confiam e nas instituições em que acreditam que de alguma irão beneficiar a comunidade em que estão inseridos. Essa é uma premissa cultural que ao longo dos anos foi muito bem estabelecida no mercado financeiro alemão.

Já no Brasil essa perspectiva caminha a passos tímidos, mesmo após 120 anos da instituição da primeira cooperativa de crédito, ainda existem estereótipos antigos que precisam ser reformulados, como a associação de que o cooperativismo está relacionado a sindicalismo de uma categoria ou só está restrito a um determinado nicho, por exemplo.

Encontrar métodos de dissoluções desses sensos que foram disseminados outrora e conseguir implementar uma cultura de colaboração, são fundamentais para o desenvolvimento e futuro das cooperativas.

Neste sentido, posso afirmar categoricamente que, a experiência de vivenciar, compartilhar conhecimento acerca do panorama de crescimento da Cocre, aumentar o network, poder conferir o case de sucesso do sistema cooperativista financeiro alemão, vão permitir contribuir ainda mais com novas perspectivas para a melhoria contínua da nossa cooperativa. Além de ajudar com a projeção positiva da imagem e reputação da Cocre em âmbito mundial.

Após participar desse intensivo e ter acesso aos métodos internacionais, posso garantir sem sombra de dúvidas de que a Cocre em seus 53 anos, encontra-se em um dos melhores momentos de sua história, por isso, está em um patamar privilegiado frente a outras instituições do setor e tem condições de atender seus cooperados de igual para igual, ou melhor, em condições melhores, mais personalizadas e com mais justiça financeira, nos mesmos moldes que grandes cooperativas internacionais estão aplicando, tendo sempre como prioridade o associado no centro de tudo e, desta forma, assegurar que ele tenha a melhor experiência.

Composição do cooperativismo de crédito alemão
O sistema de crédito cooperativo alemão possui 772 cooperativas singulares, 8.074 Postos de Atendimentos, 140 mil colaboradores, 30 milhões de clientes e 18,2 milhões de associados. Em 2021 os créditos com clientes totalizavam 944 bilhões de euros e os depósitos com clientes, 985 bilhões.

Atualmente, o maior banco cooperativo alemão possui ativo total em torno de 50 bilhões de euros e a menor, 50 milhões de euros.

As cooperativas de crédito singulares atuam como bancos, possuindo as mesmas obrigações legais e tributárias que as demais instituições financeiras. Desta forma, as cooperativas de crédito singulares são denominadas “Bancos Cooperativos”. Não há obrigatoriedade de associação da pessoa física ou jurídica para se tornar cliente e realizar movimentação junto aos bancos cooperativos.

A atuação dos Bancos Cooperativos ocorre de forma regional, porém não possuem regras sobre onde podem ou não abrirem postos de atendimento, no entanto, em respeito mútuo entre as cooperativas, onde uma não “invade” a região de outra.

Os bancos cooperativos se subdividem em dois grupos: Volksbank (Bancos Cooperativos Urbanos, tipo a classificação de Cooperativa de Crédito Mútuo no Brasil) e Raiffeisenbank (Bancos Cooperativos Rurais, tipo a classificação de Cooperativa de Crédito Rural no Brasil).

Todos os bancos cooperativos são filiados a BVR (Federação Nacional dos Bancos Cooperativos), que é um órgão responsável pela proteção do sistema financeiro cooperativo. Nunca houve na história da Alemanha a solvência de um banco cooperativo.

A BVR avalia os bancos cooperativos levando em conta o patrimônio, o resultado e o risco, e quanto maior o risco, maior a contribuição do banco cooperativo junto ao fundo de proteção.

Os bancos com ativos superiores a 30 bilhões de ativos possuem supervisão direta pelo Banco Central Europeu e os demais pelo Supervisor Bancário Alemã.

Os principais trabalhos que devem ser realizados pela auditoria interna envolvem: estrutura organizacional; sistema de controles internos; gestão estratégica de riscos; operações de crédito; serviços relacionados com TVMs e Custódia; carteira de negociação e lavagem de dinheiro.

Os bancos digitais (fintechs) não eram normatizados pela supervisão bancária, e isto mudou nos últimos 3 anos, onde estes tiveram que readequar sua estrutura como um banco, inviabilizando sua continuidade.

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